Introdução
Os judeus aguardavam por um Messias, descendente do mítico e controverso Rei Davi. Este, além de ser o verdadeiro “Filho de Deus”, iria restaurar o reino de Israel e de seu povo, libertando-os assim do jugo romano. Outros já haviam sido apontados como o tal Messias tão aguardado, porém, a partir de Jesus este quadro ganharia outras proporções.
Apesar disso, Jesus foi contestado pelos judeus como o Messias. Alguns fatores foram determinantes nesta refutação, apontados no site “Visão Judaica” e aqui alguns deles esclarecidos:
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Era o mesmo Jesus também um judeu, segundo muitos, um essênio ou, pelo menos, um filho de essênios. É preciso que, a este ponto cite-se que coincidentes com o nascimento de Jesus, existiam quatro seitas judaicas: os saduceus, judeus conservadores; os zelotas, judeus ativistas e aguerridos; os fariseus, judeus nacionalistas e que pouco tendiam às reformas; e os essênios, judeus de origem rural.
Quem eram os essênios?
Figura 1. Manuscritos do Mar Morto Eram adeptos de uma seita judaica que existiu na Palestina, no Oriente Médio, entre os séculos 2 a.C. e 1 d.C. Os essênios viviam afastados da sociedade, no deserto, concentrados em estudar o Torá - escrituras sagradas para os judeus e que formam os primeiros cinco livros do Antigo Testamento -, jejuar, rezar e realizar rituais de purificação, numa espécie de comunismo primitivo, no qual todos os bens eram de propriedade coletiva. Em suas sociedades, que em geral excluíam mulheres, eles observavam rigorosamente os mandamentos de Moisés e obedeciam a uma estrita regra de disciplina, codificada em manuscritos, que regulava todos os detalhes da vida diária. O surgimento da seita ocorreu numa época em que a classe alta de Jerusalém, na Palestina, estava sob forte influência da cultura grega - racional e pagã. Uma das conseqüências da influência foi o afastamento entre o governo judeu local e alguns grupos religiosos, que pregavam a defesa de costumes mais tradicionais desse povo. "Após 142 a.C., cresceu a tendência de separação entre os judeus. Os essênios, então, retiraram-se para o deserto ou áreas onde pudessem observar rigidamente os mandamentos de Moisés", diz o teólogo Rafael Rodrigues da Silva, da PUC-SP. As semelhanças entre certos rituais dos essênios e rituais dos primeiros cristãos, como batismo e comunhão, há muito tempo geram um grande debate entre os historiadores. Alguns acreditam que João Batista foi um essênio e há até quem suponha que Jesus Cristo teve contato com o grupo. Quem defende essas teorias lembra que as palavras essenoi, em grego, e esseni, em latim, são traduzidas como "aqueles que curam", o que seria uma referência a atividades parecidas aos milagres atribuídos a Jesus. No final da década de 1940, a descoberta de centenas de manuscritos atribuídos aos essênios, em cavernas na região do mar Morto, despertou a esperança de que o material pudesse confirmar finalmente a ligação entre a seita e os primeiros cristãos. Após décadas de trabalho e controvérsias, a tradução integral dos manuscritos do mar Morto foi completada em 2002, mas não havia nenhuma referência direta a Jesus, João Batista ou aos primeiros cristãos. Os essênios provavelmente foram exterminados pelos romanos, ou obrigados a deixar suas comunidades e fugir para salvar suas vidas, por volta do ano 68 d.C. Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_286413.shtml. Acesso em: 29.Out.2010. |
Jesus Cristo nasceu no auge do império de Augusto, época de grandes progressos romanos em várias áreas, como a arte, a agricultura, o comércio, etc. Era um período também marcado pela questão pacificadora, evidenciada pela política do “pão e circo” e da solidez de seu exército. Além disso, era da ideologia deste imperador a conservação dos valores romanos e da grandeza da própria Roma.
A grande questão quanto ao cristianismo em Roma gira em torno da tolerância dos romanos para com os demais povos, estendida inclusive ao âmbito religioso, mas não desdobrada aos seguidores de Cristo. Este repúdio aos cristãos se deu por muitos fatores, entretanto o caráter monoteísta do cristianismo fazia com que estes não se inclinassem ao culto dos deuses considerados pagãos dos romanos, assim como, impedia a visão divina do próprio imperador romano. Além disso, o caráter pacifista do cristianismo era um grande obstáculo a visão militarista dos romanos.
As Fases de Perseguição aos Cristãos em Roma
Calcula-se que as primeiras perseguições tenham se iniciado com Nero (54 a 68 d.C.), a despeito de o próprio Jesus ter vivido o período de Tibério (14 a.C. a 37 d.C.). As perseguições, segundo estudos, teriam tido sua origem no momento do grande incêndio de Roma, no ano de 64. Nero, acusado, pelo povo de ser o causador/idealizador do incêndio, acusa aos cristãos de serem os responsáveis. Criou-se, assim, uma imensa celeuma que culminou com a perseguição e execução cruel de inúmeros cristãos, despedaçados por cães famintos ou mesmo crucificados. Coube ao governo de Nero a execução dos apóstolos Pedro e Paulo.
Mas, em um período anterior, durante o governo de Cláudio (41 a 54 d.C.) já existiam indícios de hostilidade dos romanos para com os cristãos. Na verdade, enxergavam aos cristãos muitas vezes como praticantes de magia, causadores de doenças, entre outros.
Entre as principais causas desta perseguição, destacam-se:
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Posterior a Nero, Domiciano, sucessor de Tito, inicia um novo período de perseguição aos cristãos e judeus. Domiciano era grande defensor da tradicional religiosidade romana, julgando-se, inclusive descendente do próprio Júpiter (apresar de ter a Minerva como sua divindade favorita). Foram os cristãos considerados ateístas, ao renegarem o culto ao imperador Domiciano. É creditado a este imperador, inclusive, a captura e execução de João Evangelista.
Quanto ao Imperador Trajano, este a pedido de Plínio, o jovem (governador da Bitínia, no Mar Negro), impede oficialmente a formação de hetérias ou associações, especialmente as cristãs. Plínio creditou indiretamente a estas por um incêndio na capital da Bitínia, assim como reafirmou o incômodo dos fabricantes de amuletos religiosos com a presença dos cristãos que prejudicavam aos seus negócios, enquanto condenavam tais objetos. Ainda que existam evidências que eram equivocadas as idéias de que os cristãos fossem culpados por crimes tais como infanticídio ou incesto, ainda prevalece o repúdio ao seu fanatismo, considerado irracional e tolo. Também, é pontuado pela condenação de cristãos que não aceitam a figura do imperador como representante do sagrado.
Desta forma, durante o governo de Trajano, qualquer cristão que possuísse qualquer acusação, deveria renegar sua fé, recebendo a pena de morte, caso não o fizesse. Assim, segundo o próprio Plínio em sua carta endereçada a Trajano diz:
[...]Tenho por praxe, Senhor, consultar Vossa Majestade nas questões duvidosas. Quem melhor dirigirá minha incerteza e instruirá minha ignorância? Nunca presenciei nenhum julgamento de cristãos. Por isso ignoro as penalidades e investigações costumeiras, bem como as pautas em uso. Tenho muitas dúvidas a respeito de certas questões, tais como: estabelecem-se diferenças e distinções de acordo com a idade? Cabe o mesmo tratamento a enfermos e robustos? Aqueles que se retratam devem ser perdoados? A quem sempre foi cristão, compete gratificar quando deixa de sê-lo? Há de punir-se o simples fato de alguém ser cristão, mesmo que inocente de qualquer crime, o exclusivamente os delitos praticados sob esse nome? Entretanto, eis o procedimento que adotei nos casos que me foram submetidos sob acusação de cristianismo. Aos incriminados pergunto se são cristãos. Na afirmativa, repito a pergunta segunda e terceira vez, ameaçando condená-los à pena capital. Se persistirem, condeno-os à morte. Não duvido que, seja qual for o crime que confessem, sua pertinácia e obstinação inflexíveis devem ser punidas. Alguns apresentam indícios de loucura; tratando-se de cidadãos romanos, separo-os para enviá-los a Roma.[...]
Disponível em:
http://www.e-cristianismo.com.br/pt/historia/documentos/166-carta-de-plinio-a-trajano. Acesso em: 02.Out..2010.
Mesmo o reconhecido sábio imperador Júlio César, posterior a Trajano, denotava grande desprezo aos cristãos em seus escritos. Proibiu, assim, cultos que fossem prejudiciais ao Estado, a exemplo do cristianismo. Mesmo a opinião pública com relação aos cristãos endureceu-se, especialmente pontuada pela conclusão de que a peste que assolara Roma era em virtude da cólera dos deuses. Mesmo nos anos iniciais do governo de Cômodo, a situação ainda se revelava contrária ao cristianismo.
Após o turbulento e desastrado governo de Cômodo, surge a dinastia dos Severos, onde destaca-se Sétimo Severo como grande perseguidor dos cristãos e judeus. Proibiu, durante seu governo a conversão ao cristianismo, a propaganda de tal religião, bem como o proselitismo judaico. Tão cruel foi sua política de extermínio dos cristãos que por muitos autores foi considerado o próprio anticristo.
Quanto a Maximino (ou Maximiano ou Maximo Trax), tendo sido hábil e violento militar, instaurou durante seus três anos de mandato uma perseguição maciça aos chefes e líderes cristãos, responsáveis pela propagação do Evangelho.
Pouco também pode ser dito sobre o imperador Décio, a não ser por ter estendido a todo seu império a perseguição aos cristãos. Declarava-os inimigos de seu governo e, consequentemente, de todo império. No ano de 249, instaurou uma lei que obrigava aos súditos a oferecerem um sacrifício solene aos deuses, sendo que este deveria ser oficialmente registrado. Esta manobra tinha a finalidade de detectar aos cristãos que, por sua doutrina religiosa, não podiam realizar tal procedimento. Apesar disso, muitos abandonaram ao cristianismo, temendo as violentas represálias, inclusive bispos e outros líderes. Este mesmo caráter persecutório foi compreendido por Trebônio Galo, voltando-se mais uma vez aos líderes cristãos.
Outro imperador apenas notório por seu ardor na perseguição dos praticantes do cristianismo foi Valeriano. Este imperador redigiu uma série de éditos em que exilava líderes cristãos, proibiam os encontros dos praticantes desta religião e legalizavam a demissão dos cristãos que ocupassem cargos públicos imperiais.
Coube, ao final da dinastia dos Severos, a Diocleciano descentralizar o poder, favorecendo à defesa do território e dividindo o império romano em duas porções: o Império Romano do Oriente e o Império Romano do Ocidente. Também credita-se a este imperador uma série de medidas que tinham como finalidade a extinção do cristianismo.
Na realidade, os primeiros vinte anos de governo de Diocleciano foram mais pacíficos para os cristãos. Muitos estudiosos do período apontam a Galério, governante da Ilíria e regiões do Danúbio, como grande opositor aos cristãos que pressionara a Diocleciano no sentido de punir aos cristãos. O resultado dessa influência teriam sido os quatro éditos consecutivos (fevereiro de 303 - fevereiro de 304) que impuseram aos cristãos a destruição das igrejas e locais de culto, o confisco dos bens, a entrega e destruição dos livros sagrados, a tortura até à morte para quem não se sacrificasse em honra ao imperador.
A perseguição máxima ao cristianismo se deu especialmente no Oriente. E, tendo Galério substituído a Diocleciano, a perseguição se tornou ainda mais feroz. No entanto, quando mortalmente doente, Galério revogou tais éditos e suas punições, lançando um édito de tolerância em 311. Apesar disso, as tensões populares com relação ao cristianismo não diminuíram.
O grande diferencial para aceitação do cristianismo, porém, foi a conversão de Constantino. Este mesmo sem ser a princípio cristão, aliou-se a estes e concedeu-lhes liberdade de culto, igualdade de direitos e devolveu-lhes seus bens anteriormente tomados. Também promoveu uma série de medidas que evidenciavam sua tendência cristã, entre eles: a proibição do adultério, a interdição das arenas de gladiadores, a execução de escravos pelos seus senhores, entre outros. Apesar disso, Constantino não incentivava o repúdio aos pagãos; tendo demonstrado sua tolerância ao nomear muitos indivíduos pagãos para cargos públicos. Na verdade, o próprio Constantino, apesar de incentivar a conversão ao cristianismo, só batizou-se às vésperas de sua morte.
Apesar dos esforços empreendidos pelo imperador Juliano em retornar ao paganismo, o cristianismo continuou a ganhar mais adeptos. Juliano declarou-se pagão logo ao assumir-se como imperador e declarou a liberdade de culto, apesar de tomar diversas medidas contra os cristãos. Tendo governado por apenas vinte meses, foi substituído, porém, por Joviano que restitui os direitos dos cristãos.
Ao contrário de seu antecessor Valentiniano, defensor da liberdade de culto, Valêncio, batizado ariano, passou a perseguir aos cristãos orientais. Seu sucessor, Graciano, porém tomou medidas que condenavam ao paganismo e favoreciam claramente ao cristianismo. A Graciano, inclusive, cabe o termo Religião Católica (do gregoKatholikós, formado pelas palavras Katá, compreensão, e Holos, todo), bem como o confisco de todos os bens de sacerdotes pagãos, anulando seus privilégios, entre outras medidas. Sendo estas também adotadas posteriormente por Teodósio, foram razão do declínio do culto pagão.
Teodósio, além de coibir o paganismo, declarou o cristianismo como religião oficial do Império Romano. Ainda que a queda do Império Romano em 476, sob o ataque de Odoacro, tenha sido um fator relevante, não abalou o avanço do cristianismo. Mesmo porque muitos bárbaros já tivessem aderido à religião ou viriam a fazê-lo momentos depois. Mas, fato é que o Império Romano teve papel fundamental para o nascente cristianismo.
Figura 6. Maria e o menino Jesus. Desenho em uma catacumba, século 2º.
Referências
Por que os judeus não crêem em Jesus?
Disponível em:
Acesso em: 01.Nov.2010.
A Vida Secreta de Jesus.
Disponível em:
http://www.angelfire.com/scifi/vitrinescifi/jesus.htm
Acesso em: 01.Nov.2010.
Fundação do Cristianismo.
Disponível em:
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Fund_Cris/4251y125.htm#4251y161
Acesso em: 01.Nov.2010.
Imperadores Romanos.
Disponível em:
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RolImpRo.html
Acesso em: 01.Nov.2010.
Perseguição aos Cristãos
Disponível em:
http://imperioroma.blogspot.com/2010/03/perseguicao-aos-cristaos.html
Acesso em: 01.Nov.2010.
História da Igreja
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Acesso em: 01.Nov.2010.
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Acesso em: 01.Nov.2010.
As Catacumbas Cristãs.
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Acesso em: 01.Nov.2010.
Carta de Plínio a Trajano.
Disponível em:
http://www.e-cristianismo.com.br/pt/historia/documentos/166-carta-de-plinio-a-trajano
Acesso em: 01.Nov.2010.
História do Cristianismo.
Disponível em:
http://www.ocultura.org.br/index.php/Hist%C3%B3ria_do_Cristianismo
Acesso em: 01.Nov.2010.
Imagens
Figura 1. Manuscritos do Mar Morto. Disponível em:
Acesso em: 01.Nov.2010.
Figura 2. Busto de Nero.
Disponível em:
http://www.bible-history.com/nero/NERO00000000.jpg
Acesso em: 01.Nov.2010.
Figura 3. Busto de Trajano.
Disponível em:
Acesso em: 01.Nov.2010.
Figura 4. Busto de Décio.
Disponível em:
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/irtradec.jpg
Acesso em: 01.Nov.2010.
Figura 5. Constantino.
Disponível em:
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/ircnsti1.jpg
Acesso em: 02.Nov.2010.
Figura 6. Maria e o menino Jesus.
Disponível em:
http://www.ocultura.org.br/images/thumb/e/e2/Madonna_catacomb.jpg/145px-Madonna_catacomb.jpg
Acesso em: 02.Nov.2010.
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