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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Resenha: A Era das Revoluções de Eric Hobsbawn

 

Introdução

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O ponto de partida da obra “A Era das Revoluções” de Hobsbawn é o estudo do período compreendido entre 1789 e 1848, marcado por diversos acontecimentos sociais, políticos e econômicos. Os principais destaques, todavia, são a a revolução industrial britânica em seus estágios iniciais e desenvolvimento, assim como a Revolução Francesa, aos quais, o autor nomeou com o termo a “dupla revolução”. Pontua os efeitos de tais acontecimentos e seus reflexos no mundo contemporâneo e não apenas no tocante à França e Inglaterra apenas.

Segundo o próprio autor, o livro encontra-se, a princípio dividido em duas partes; sendo a primeira referente ao desenvolvimento histórico do intervalo compreendido na obra e a segunda parte a respeito da construção da sociedade a partir de tais eventos. Hobsbawn, propõe, a partir desta obra, uma interpretação dos fatos e acontecimentos, em detrimento a uma análise minuciosa destes. Entretanto, sublinha a importância destes mesmos eventos para o panorama mundial da época, assim como, para o contemporâneo e suas ramificações e extensões para a formação da modernidade e pensamento sócio-político-econômico.

A Era das Revoluções

Hobsbawn inicia sua interpretação ao apresentar o mundo da época como “maior” e “menor”, se comparado ao atual. “Menor”, já que tanto a população, quanto a estrutura física do homem do período era bem reduzida. Mesmo entre os homens da ciência, o conhecimento sobre o Mundo que o cercava e a sua população era estreito. “Maior”, já que, para seus habitantes, o Mundo era extremamente grande enquanto visto pela ótica das dificuldade nas comunicações e a pequena (ou quase inexistente) mobilidade de seus habitantes entre suas regiões. Ou seja, a maior parte das notícias chegavam às pessoas através dos viajantes e nômades e muito posteriormente às suas ocorrências, dada a ausência de jornais e periódicos ou mesmo em virtude do comum analfabetismo. Além disso, a maioria dos indivíduos, a não ser por causas como o recrutamento militar, nasciam, viviam e morriam em seu local de nascimento.

Era um mundo rural, com raras grandes áreas “urbanas” (como Londres e Paris), permeado por uma economia voltada ao campo. O trabalhador rural não possuía um conceito muito diferenciado do escravo: dedicava-se ao trabalho forçado nas terras de seu senhor, submetia-se a exploração e, em alguns casos, poderia até mesmo ser vendido.

Em vista deste quadro feudal, gradativamente desponta uma sociedade rural diferenciada em algumas partes da Europa. A Inglaterra é o grande exemplo desta diferença, com um número considerável de seus agricultores voltados aos empreendimentos comerciais médios, dotados de mão-de-obra contratada.

Outro fator relevante para a implantação industrial, segundo o autor, quanto a Grã-Bretanha, era o incentivo econômico de seu governo às atividades comerciais e manufatureiras. Não devendo a este ponto se subestimar no período ao Iluminismo, enquanto facilitador e incentivador da propagação do conhecimento e ao mesmo tempo, sendo fruto do progresso da classes mercantis, economicamente progressistas e pré-industriais. Formam-se, assim, sociedades provincianas através de homens que incentivavam ao progresso científico, político e econômico, tendo como principais núcleos a própria Inglaterra e a França – os centros da “dupla revolução”.

Através da ideologia propagada pelo Iluminismo, surgem os princípios universais que guiariam a Revolução Francesa: Liberté, Egalité, Fraternité (liberdade, igualdade e fraternidade). Fato é, entretanto, que este mesmo pensamento, apesar de inovador, repleto de idéias humanitárias, de racionalidade e de progresso, ainda que indiretamente, favoreceu à consolidação do capitalismo. Ainda que muitos pensadores iluministas estivessem ao lado dos governantes monárquicos, em muito esta ideologia colaborou para o declínio do Antigo Regime. Desta forma, com o desenvolvimento do capitalismo, a burguesia continuou sua ascensão econômica na como Inglaterra e França.

Entretanto, o fator preponderante para que existisse a Revolução Industrial na Inglaterra não foi apenas a presença de pensamentos inovadores ou mesmo do avanço científico e tecnológico. Na realidade, a Inglaterra dispunha de uma estrutura político-econômica anterior que já favorecia às atividades mercantis, assim como uma agricultura que igualmente beneficiava ao crescimento econômico. Todavia, a verdadeira e real explosão da Revolução Industrial ocorreu na medida em que vislumbrou-se uma possibilidade de alcançar dividendos na produção de consumo de massa (do algodão, por exemplo), através uma tecnologia relativamente rudimentar e pouco onerosa. Aliado a este aspecto, tais empresários descobriram o mercado externo, como real fonte de lucro, ajustando-se plenamente às estruturas capitalistas.

Ainda que alguns percalços tenham atingido esta estrutura econômica, na visão dos capitalistas, os problemas sociais gerados a partir da transição econômica só seriam relevantes se quebrassem a ordem social. Assim, geraram-se novos investimentos, ainda que crescessem as revoltas por parte da classe trabalhadora, o que facilitou o surgimento das ferrovias. Estas possibilitaram tanto no transporte de mercadorias, quanto de pessoas e até mesmo da comunicação, a ampliação vertiginosa da velocidade que chegavam de um ponto a outro, ainda que distante.

Se por um lado, a economia mundial estava completamente modificada após a Revolução Industrial inglesa, por outro, na França, a Revolução Francesa mudaria o Mundo pela sua nova forma de conceber a política e ideologia. A crise social e econômica na França desencadeou a oposição das classes baixas, os burgueses, os trabalhadores e os camponeses – o Terceiro Estado. Enquanto camponeses e trabalhadores em geral consumiam-se na mais amarga miséria, aspirando uma melhor condição de vida; a burguesia possuía uma melhor condição social. Entretanto, a burguesia desejava uma maior participação política, além de desejar ardentemente sua liberdade econômica.

Hobsbawn vê a Revolução Francesa como uma revolução no âmbito social, marcada pela presença de grupos que, mesmo que semelhantes não eram idênticos – os jacobinos, os girandinos e os sansculottes. Estes grupos possuíam concepções próprias o que, por vezes, levou a conflitos entre estes. Nesta esteira entre conflitos, surgirá por fim a figura de Napoleão Bonaparte como catalisador dos ideais franceses.

E não só isso, a Revolução Francesa causou a comoção estrangeira que, mesmo posteriormente à queda de Bonaparte, não se arrefeceu. Ainda que existissem muitos grupos que pregassem antagonismo à França, muitos outros manifestavam apoio a esta nação. Entretanto, notadamente, os grandes inimigos da França eram os ingleses.

Os franceses eram conhecidos pela eficiência de seus exércitos, porém, não foram capazes de fazer frente à frota marítima inglesa. Portanto, viram-se obrigados a anular a Inglaterra economicamente, isto através do Bloqueio Continental. A França, por fim, derrotada na Rússia viu-se vencida pela coalizão de seus inimigos e abandonada por alguns de seus defensores. No entanto, a guerra havia mudado – política-economica e socialmente - em muito o panorama europeu e até mundial, de forma inexorável.

Depois de aproximadamente vinte anos de guerra, a iniciativa dos governantes foi no sentido de promover a paz, especialmente aqueles que ainda se detinham na concepção do Antigo Regime. Mesmo a França, enquanto o lado derrotado, não sofreu sanções tão duras se comparadas as da Alemanha durante o século 20. Os congressos foram um importante instrumento diplomático na manutenção da paz no período pós-napoleônico, ainda que não tenham resistido por muito tempo à crise da fome de 1816-17 e à depressão econômica.

Ainda que a “Questão Oriental” tenha amedrontado a Europa, na iminência de uma guerra entre britânicos e russos, não desencadeou um conflito de grandes proporções ou que pudesse ser duramente sentido como a princípio se esperava. Externamente, a Inglaterra se impunha militarmente no período, mas a sua atuação se restringia às parcelas externas à Europa. Sublinham-se, no período, as revoluções de ordem libertária na América espanhola e a onda revolucionária de 1830.

O ano de 1830, além das revoluções, ficou notório também pela industrialização dos EUA e do continente europeu, assim como pelas ondas migratórias humanas e os avanços no pensamento humano e artes. Tão somente em 1848, a possibilidade uma guerra de grandes proporções se fez presente, ainda que esta só viesse realmente a eclodir no século 20.

Um ponto que o autor esclarece, é que a Revolução Francesa foi um levante que serviu de modelo aos posteriores. Os revolucionários que se sucederam demonstravam claramente o descontentamento econômico e social dos envolvidos, antagônicos a sistemas e governantes igualmente inadequados. Viam-se assim os revolucionários, a exemplo dos franceses em 1789, como defensores de um povo ignorante e iludido contra um sistema ineficaz e desigual. As revoluções de 1830, no entanto, configuraram-se como um movimento revolucionário proletário-socialista que separou moderados de radicais e criou uma nova situação internacional.

Ainda que os problemas da revolução fossem semelhantes na Europa, não eram iguais - provocavam grande tensão entre os moderados e os radicais. Nos princípios democráticos antes ventilados, tornaram-se incertos o suficiente entre ideologias e posturas diversas. Os liberais minimizaram seus intuitos reformistas e passaram a suprimir a esquerda radical, em especial, os revolucionários da classe operária. Visto por este ângulo, percebe-se a falta de clareza entre radicais, republicanos e os novos movimentos proletários e os liberais. O que ficou notório, outrossim, é o descontentamento crescente das classes desfavorecidas em toda Europa, inclusive na Grã-Bretanha e França, marcado pelo receio que tais incutiam nos governantes.

Desta forma, compilando todas as informações anteriores, segundo o historiador e sociólogo Fábio Metzger, sobre as ondas de revolução citadas por Hobsbawn:

Em 1820, ocorreu a primeira onda revolucionária, com a libertação de países latino-americanos do jugo espanhol, e revoltas na Itália, na Espanha e na Grécia. Em 1830, a segunda, ameaçando Estados liberais moderados, com guerras civis e revoltas populares. Essa seqüência de acontecimentos eliminou os últimos vestígios de feudalismo na Europa. E, em 1848, a terceira onda de revoluções tomou o continente como um todo, derrubando governos. Só que nenhum dos governos rebeldes que assumiram o poder sobreviveria por muito tempo. No fim das contas, triunfou a organizada articulação dos liberais.

Após 1830, inicia-se a desintegração do movimento revolucionário europeu em segmentos nacionais, que dá lugar a uma mentalidade voltada a fraternidade totalizante e a liberdade mútua. Estes novos movimentos mais uma vez configuravam-se como consequência da “revolução dupla”, envolvendo, a partir de então, os proprietários menores ou pequena nobreza inferior. Surge, assim, uma classe média que conta com o apoio dos intelectuais profissionais que, por sua vez, emerge em conjunto ao progresso das escolas e universidades. Tal acontecimento, insuflou ao aumento notável do número de pessoas instruídas e no consequente avanço científico.

Outros movimentos que também merecem destaque, segundo Hobsbawn, são aqueles referentes às revoltas populares contra o domínio estrangeiro, embora não possam ser classificados como nacionalistas modernos. Entretanto, mesmo com relação aos movimentos revolucionários anteriores, não se pode afirmar que possuissem um caráter socialista ou mesmo voltado à democracia radical, prevalecendo ainda os interesses das classes dominantes.

É importante que se saliente a este ponto que o feudalismo estava erradicado da França desde a Revolução Francesa, bem como seria eliminado de outras regiões, como a Alemanha, Países Baixos e Suiça por obra dos consquistadores franceses. As conquistas liberais e o incentivo de pensadores também acabaram por invadir as regiões adjacentes, levando também ao banimento de tal sistema e da sociedade aristocrática, mesmo que em tempos diversos. As mudanças nas relações agrárias, por exemplo, foram influenciadas pela Revolução Francesa, no entanto, a utilização racional da terra já havia impressionado aos déspostas esclarecidos do período pré-revolucionário, sendo portanto, anterior ao evento francês. Da mesma maneira, consolidou-se a economia industrial, iniciada pela Inglaterra e firmada em 1848 neste país, de forma gradual e lenta, em muitos casos.

Assim, enquanto a industrialização atingia índices vertigionosos na Inglaterra, em outras regiões, como a França parecia caminhar a passos lentos. A verdade é que, diferentemente da Inglaterra, a economia capitalista francesa baseava-se nas estruturas do campesinato e da pequena burguesia – não direcionando capital para a indústria. Nos Estados Unidos, no entanto, a situação era diversa; enquanto na França existia o capital, este era escasso em terras americanas.Estes fatos demonstram claramente a maneira diversa como a industrialização se comportou nas diferentes regiões e nações.Baseado nas afirmações anteriores, o autor ressalta que a maior consequência destes processos seria a divisão dos blocos entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

Os efeitos causados pela “dupla revolução” não se restringiram apenas ao âmbito político e econômico, causaram também modificações drásticas na sociedade da época. A sociedade aristocrática sendo devastada, também levou consigo os seus padrões e suas visões, abrindo espaço para uma nova forma burguesa de cultura, pensamento e coletividade. A arte e a cultura em geral ganham um impulso que, entretanto, não a tornou acessível para as massas desfavorecidas. As últimas apoiavam sua cultura especialmente nas manifestações populares (como o folclore), mantendo-se praticamente inalteradas de 1789 até 1830, e sendo colocadas à parte de outras classificações da arte. Mesmo os artistas do período, em especial os românticos, possuíam clara aversão às classes superiores, porém, nem sempre este antagonismo revelava-se na prática.

Referências

A colonização inglesa na América do Norte. Disponível em: < http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=145>. Acesso em: 06.Set.2011.

A colonização espanhola e inglesa na América. Disponível em:

< http://www.cienciamao.usp.br/dados/t2k/_historiadobrasil_histb7.arquivo.pdf>. Acesso em: 06.Set.2011.

Dominação Inglesa. Disponível em:

< http://www.professorgilbert.com.br/interno.php?id=264>. Acesso em: 06.Set.2011.

Colonização inglesa. Disponível em:

< http://www.brasilescola.com/historiag/colonizacao-inglesa.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

As haciendas. Disponível em:

< http://www.brasilescola.com/historia-da-america/as-haciendas.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

Colonização espanhola. Disponível em:

< http://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/colonizacao-espanhola.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

Imagens

1. A Era das Revoluções. Disponível em:

< http://i.s8.com.br/images/books/cover/img9/25889.jpg>. Acesso em: 13.Set.2011.

2. Ação dos espanhóis sobre os indígenas. Disponível em:

< http://mundoeducacao.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/c15813ea24b307f771bc0fcee3dc57a9.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

3. Antiga hacienda mexicana. Disponível em: < http://www.brasilescola.com/upload/e/Hacienda%20-%20BRASIL%20ESCOLA.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

4. Colonos ingleses na América. Disponível em: < http://3.bp.blogspot.com/_uZ36BDz9F6g/S6QAQDEck5I/AAAAAAAAAgc/nHlnNpP9HVY/s1600/t045175b6zc.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

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